Manuela: relembre a história da cadela de três patas que virou símbolo do estilo de vida simples de Mujica

Cachorra acompanhava o ex-presidente em eventos e era considerada integrante 'mais fiel' do governo. Mascote morreu aos 22 anos, em 2021. Corpo de Manuela foi enterrado em chácara do ex-presidente
Pablo Bielli/AFP
A cadela Manuela, companheira inseparável do ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica, ficou conhecida por aparecer em entrevistas, eventos oficiais e atos protocolares ao lado do dono. De três patas, tornou-se um símbolo do estilo de vida simples adotado por Mujica, que morreu nesta terça-feira (13), aos 89 anos.
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Manuela perdeu uma das patas após ser atropelada por um trator que o próprio Mujica dirigia na chácara onde morava com a esposa, Lucía Topolansky, nos arredores de Montevidéu.
Mesmo após o acidente, a cadela seguia firme ao lado do dono, aparecendo com frequência em transmissões ao vivo, reportagens e imagens oficiais durante o governo Mujica. O uruguaio governou o país entre 2010 e 2015.
Mujica diz que Manuela era a 'integrante mais fiel' de seu governo
Mario Goldman/AFP
Com o carisma e a simplicidade que marcaram o ex-presidente, a cadela também ganhou fama internacional.
Manuela virou personagem de vídeos no YouTube, em que diziam — em tom de brincadeira — que ela "doava 90% da ração" a outros animais. A afirmação era uma referência à prática de Mujica de doar boa parte do salário.
Em entrevista à rede britânica BBC, em 2015, Mujica afirmou que Manuela "foi a integrante mais fiel" do governo.
A cachorra morreu em junho de 2018, aos 22 anos, e foi enterrada na chácara da família.
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Morte
Quem foi Pepe Mujica
A morte de Mujica foi confirmada pelo atual presidente uruguaio, Yamandú Orsi, visto como um dos herdeiros de Mujica.
"É com profundo pesar que anunciamos o falecimento do nosso colega Pepe Mujica. Presidente, ativista, líder e líder. Sentiremos muita falta de você, querido velho. Obrigado por tudo o que você nos deu e pelo seu profundo amor pelo seu povo", escreveu Orsi.
Em abril de 2024, Mujica anunciou que estava com um tumor no esôfago, com o órgão “muito comprometido”. Ele também afirmou que seu quadro de saúde era "duplamente complexo", já que sofria de uma doença imunológica há mais de 20 anos que havia afetado os rins.
Biografia
Mujica foi ícone pop da esquerda e referência de vida simples; conheça trajetória
José Alberto Mujica Cordano nasceu em Montevidéu, em 20 de maio de 1935. Nos anos 1960, tornou-se membro da guerrilha Movimento de Libertação Nacional - Tupamaros. O grupo se notabilizou, antes da instalação da ditadura militar uruguaia, em 1973, por assaltar bancos e distribuir comida e dinheiro roubado aos pobres.
Durante sua atuação na clandestinidade, Mujica foi ferido quatro vezes em confrontos com forças policiais. Escapou duas vezes da prisão até ser recapturado definitivamente, em 1972.
Seu período na prisão ao longo da ditadura foi marcado por torturas e condições precárias, sendo mantido por longos períodos na solitária.
Ele era um dos presos considerados “sequestrados” pelo regime — e seria executado sumariamente caso os Tupamaros retomassem as atividades de guerrilha. Ao todo, passou 14 anos de sua vida atrás das grades.
Em 1985, Mujica foi libertado após a promulgação de um decreto de anistia. Entrou para a política institucional, ajudou a fundar o partido de esquerda Movimento de Participação Popular (MPP) e foi eleito deputado em 1994.
Cinco anos depois, chegou ao Senado e, em 2005, com a chegada à Presidência de seu correligionário Tabaré Vázquez (1940–2020), foi nomeado ministro da Agricultura.
Presidência
Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai
Secretaria de Comunicação do Uruguai
Mujica foi eleito sucessor de Vázquez e assumiu a Presidência em 2010, governando até 2015. Em sua gestão, o gasto social saltou de 60,9% para 75,5% do total do gasto público.
Em conformidade com sua visão política, o salário mínimo teve um aumento de 250%. Em 2012, ele propôs a legalização do consumo e da venda da maconha, que acabou se concretizando no país.
Ao lado da mulher, Lucía Topolansky, Mujica chamou atenção como um chefe de Estado de vida simples: morava em um sítio nos arredores da capital e dirigia diariamente seu próprio Fusca, ano 1987, até a sede do Executivo, na Praça Independência.
Após deixar a Presidência, voltou ao Senado, cargo que ocupou até 2020, quando renunciou por motivos de saúde, em meio à pandemia de Covid-19.
Mujica passou os últimos anos de sua vida cuidando de sua horta. Acredita-se que doava 90% do salário como ex-presidente para projetos de combate à pobreza.
Durante a maior parte da vida, declarou-se ateu. Em uma entrevista de 2012, sintetizou sua crença: “Não tenho religião, mas sou quase panteísta: admiro a natureza”.
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